Eu tenho um parafuso a menos

14 11 2008

Há um mês, meu japonês predileto instalou perfeitamente dois parafusos de titânio na minha boca. Eles ficaram firmes e fortes parafusados na minha gengiva, que, segundo ele, é dura. Não me perguntem.
Um parafuso de cada lado, na parte superior. A função deles é servir de apoio pra puxar os dentes da frente pra trás, sem levar os de trás pra frente. O japa disse que funciona. Eu acredito nele.

Essas novas criaturas, moradoras da minha gengiva, me deixaram 600 reais mais pobre e neurótica.

Depois de parafusá-los na minha gengiva (o que foi beeeeem esquisito), o japa me informou que havia três formas deles caírem:
1. Bater a escova de dentes ou qualquer outra coisa dura.
2. Falta de limpeza, que causaria uma inflamação, amolecimento e queda do trem.
3. Questões biológicas próprias de mim mesma, Ana Cartola, prazer.

Ele ainda me explicou que, se os parafusos caíssem por um dos dois primeiros casos, eu teria que reimplantar e pagá-los de novo. No terceiro, seria só reimplatar, sem novo pagamento.

Eu virei a neurótica do parafuso. A escovação virou uma tortura. Eu tomava todo o cuidado do mundo, passava a escova com delicadeza, depois a interdental com muito carinho, evitava comida dura, mastigava com toda a atenção. Além de ter que pagar de novo, tinha a minha imaginação fértil que me fazia ver coisas como o parafuso mole, sendo puxado pelo elástico que é preso nele, rasgando a minha gengiva toda. Sim, eu sou louca. Eu sei. Mas eu sempre dava aquela verificada básica pra ver se a minha gengiva estava inteira. Escondida, claro.

Tudo ia muito bem até ontem, quando eu cheguei no consultório, já contando que ele tinha me transformado na louca do parafuso:

— Ah, mas isso é psicológico. É normal. Daqui um tempo você nem vai lembrar mais deles.
— Daqui um tempo eu espero estar sem eles…
— Hehe. Abre a boca. Tá vendo? Firme e forte. Tcho ver o outro. Hm… ops… Esse aqui você perdeu. Tá molinho, molinho.
— Ai caralho.

De repente, comecei a sentir uma coisa rodando dentro da minha boca e uma puta dor. O japonês do inferno tava desparafusando o bicho sem dó nem piedade. Sem nem ter avisado que ia fazê-lo. Eu fiz tudo que eu podia fazer naquela situação: urrei. Ele nem se abalou. Continuou do jeito que estava. Pensei em morder o dedo dele, mas considerei que vou continuar esse tratamento por uns bons anos ainda, e desisti.

Depois de se satisfazer com a tortura, ainda com olhos brilhando, ele perguntou se eu lembrava de ter batido a escova de dentes, ou mordido alguma coisa muito dura, e sentido dor. Não, nada disso aconteceu. Eu vinha sentindo dor, mas parecia ser da pressão dos elásticos, como é que eu ia imaginar que essa merda desse parafuso que você enfiou na minha boca ia cair sem eu ter feito nada e ter escovado os dentes feito uma louca e mastigado com todo cuidado, SEUJAPONÊSFILHODEUMAPUTA! Tudo parecia muito normal pra mim, doutor querido.

Bom, marquei o reimplante dessa porra desse parafuso, mas não tive coragem de perguntar se vou ter que pagar de novo. É melhor pensar nisso só depois.

Agora todo mundo pode dizer à vontade que eu tenho um parafuso a menos. Até dia 26.
E a impressão que vou viver pra sempre com esse aparelho na boca está cada vez maior.


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9 responses

15 11 2008
PamMachado

Ah, eu também tive essa impressão quando coloquei o aparelho e ele queria fazer mil coisas e colcoar mil coisinhas dentro da minha boca. Elásticos pra cá, ferros pra lá, e etc. Mas depois de quase 3 anos eu tirei. E foi um alívio tão grande que tu não faz idéia. Agora estou aqui, usando o móvel SEMPRE porque eu tenho medo de que tudo volte!

15 11 2008
Ana Cecilia Pereira

Há um ano eu vivo com a impressão de que nunca vou tirar o aparelho! haha

Adorei o post!
Tenho conversas parecidas com minha dentista! haha

15 11 2008
Fabiana

Eu uso aparelhos dos mais variados tipos há 15 anos. Não, não é hipérbole. É uma saga odontológica; há uma luta de classes acontecendo dentro da minha boca, mas tá durando mais que uma Revolução Russa estendida. E meu tratamento será coroado com uma cirurgia ortodôntica que arrancará um pedaço do meu maxilar e aumentará a minha mandíbula. DOR, inchaço, DOR e apenas líquidos e pastosos por um mês que, tenho certeza, vai levar anos pra passar. E, se tudo der certo, uns 15 quilos a menos, que essa desgraça de boca tem que me trazer algo de bom.
Sou solidária à sua frustração por ter que gastar tanto dinheiro com uma coisa que machuca sua gengiva.

27 01 2009
Inconstante

Isso não é nada!!! Não me entenda mal. Mas em julho desmaiei e quebrei os dois dentes da frente!!! O central teve que ser reimplantado e até hoje tá meio mole e ainda dá pra sentir um ventinho…

8 02 2009
Mila

Rapaiz..
Há cada coisa que acontece c a gnte… que só a gnte mesmo.
Mas essa do parafuso foi absolutamente maluca, rs
(eu não sei como eu vim parar aqui.)

11 02 2009
meyre

Então, eu fui ao medico ele tirou o aparelho dos meu dentes,só que a moça errou na mildagem, agora ele quer arrancar meus ultimos molares por causa disso, agora vou ter que esperar, isso não vai me prejudicar?

2 01 2010
Anônimo

[…] Esse foi um dos posts lidos nos últimos dias. […]

4 01 2010
Marcelo Borges

Muito hilário. Dei boas risadas com tua história. Gosto muito do teu jeito de escrever e contar as coisas. Valei!

1 07 2010
Luciana

Também não sei como cheguei aqui, e nem porque não partilhamos essa experiência antes!
Pensei que já tinha sofrido todo tipo de dor e já estivesse suficiente falida!
A dor inclusive, ja estou quase sublimando, mas o bolso é meio difícil sublimar….
Meus dentes são minha “obra”, não obra-prima, mas obra daqueles que a gente começa a fazer em casa: sempre dá problema, nunca acaba no tempo previsto e consome todo, TODO dinheiro existente!
Estou me preparando psicologicamente para os parafusos daqui há uns 3 meses, tenho tentando acreditar que não possa doer mais que uma alveolíte!

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